Brasil bate recorde em blindagem de veículos

Quem deve estar 'feliz' com a atual situação da criminalidade no país são as empresas de blidagem veicular. Calma, isso é apenas uma brincadeira... É?
A procura por esse tipo de serviço vem apresentando crescimento anual de mais de 15%. Lembrando que em 1995, a produção anual não ultrapassava 400 unidades blindadas. Em 2007, passou de 5.300 veículos.O crescimento é equivalente ao números da violência e influencia diretamente na economia. Não é um aumento vertiginoso, mas estável e provavelmente constante para os próximos anos.
Embora a concentração de blindados esteja mais presente nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo -- que representam respectivamente 28% e 40% do mercado --, regiões como o Nordeste e o Sul tendem a ser zonas de investimento das blindadoras. A crescente violência em capitais como Recife, Fortaleza e Belém, por exemplo, estimula a procura por veículos seguros. Ou seja, é um mercado nos quais as razões variam de região para região.
"No Ceará existe muito seqüestro. Já em São Paulo, Pernambuco e Bahia, os clientes procuram por conta dos assaltos nos sinais, com o carro parado. No Rio existe um motivo muito exclusivo: a bala perdida", ressalta Paulo Júdice, diretor técnico e engenheiro da Piquet Blindagens.
O que mudou foi o perfil do público que procurava pelo serviço. É verdade que a blindagem ainda não se popularizou em grandes proporções. Entretanto, não é mais estranho encontrar carros médios nas oficinas de blindagem. O Toyota Corolla é o campeão de blindagem nos últimos dois anos, segundo a Abrablin. A classe média-alta está atenta e procura pela segurança.
"Hoje já temos uma procura de carros que custam R$ 40 mil, por exemplo. Não é mais uma realidade exclusiva dos modelos de luxo", comenta Alfredo Dias Cardoso, diretor técnico e comercial da Oregon Blindados.
Outro motivo que leva a classe média e média-alta ao mercado de blindados é a facilidade na aquisição do serviço. Já é possível financiar o carro blindado ou comprá-lo usado. "A blindagem ainda é um serviço caro, mas acredito que o financiamento pode ser um fator do crescimento da procura", acrescenta Paulo Júdice. Com isso, uma nova tendência começa a surgir no mercado automotivo. Atualmente, os usuários majoritários não são mais as celebridades ou políticos, e sim empresários e executivos em busca de segurança pessoal.
A despeito do constante crescimento, o mercado de carros à prova de bala acompanha inevitavelmente as estatísticas da violência. As pessoas resolvem se proteger e procurar a blindadora principalmente quando acontecem casos próximos ao seu dia-a-dia.
"Temos picos de pedidos com os crimes que têm destaque na mídia. Em fevereiro do ano passado, com o caso do menino João Hélio no Rio, recebemos 40 carros em um único mês. Este mês tivemos novamente muitos pedimos por conta do assassinato do menino João Roberto, na Tijuca, também no Rio", comenta Phillipe Balbi, proprietário da Safe Guard. A procura também aumenta quando novos modelos são lançados ou substituídos pela linha do ano seguinte.
O tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet na inauguração de sua empresa de blindagem de automóveis em São Paulo. Clientes vêm do Rio, Pernambuco e Bahia, além de São Paulo.
Em busca de segurança total, os consumidores que blindam seus veículos utilizam geralmente o nível III-A -o mais procurado em território nacional- que suporta ataques com pedras e ferro, além balas com calibres 22 e 38, e de armas como Magnum 357, pistolas 9 mm, Magnum 44 e submetralhadoras Uzi, que, segundo pesquisas, são mais utilizadas.
"Não existe meio tiro. Ou você está seguro ou não está. Por isso, pelo histórico de violência nas cidades, usamos este nível na maioria das blindagens", explica Cláudia Candido, diretora de marketing do Grupo Inbrablindados.
A manutenção é outra etapa bastante importante para os encouraçados sobre rodas. É imprescindível fazer a revisão de diferentes itens da carroceria do veículo e verificar possíveis delaminações nos vidros, quando as camadas de um vidro resistente a impactos se descolam. "As revisões periódicas fazem com que a qualidade dos serviços prestados sejam permanentes garantindo a segurança dos ocupantes do veículo", diz Dinah Setton, diretora de marketing da Master Blindagens.
Em termos de tecnologia, as blindadores têm procurado materiais mais leves, que diminuam o peso do carro, para que ele não perca tanto em potência. A fibra sintética aramida, por exemplo, vai ocupando o lugar da chapa de aço. E os vidros tendem a ficar mais finos e menos pesados. De qualquer forma, a blindagem acarreta na perda da originalidade do veículo. "As desvantagens são as transformações que implicam em peso e perda de potência. Mas o cliente que busca o serviço sabe disso, e é algo que acaba compensado com a segurança", valoriza Alexandre Ret, presidente da Câmara de Blindados da Abrablin.
PELO MUNDO
Enquanto no mercado brasileiro o nível III-A é o mais utilizado, o mesmo não acontece no exterior. Nos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio, por exemplo, o perfil dos usuários de veículos blindados fica praticamente restrito a políticos ou milionários famosos. Como as armas utilizadas também são um pouco diferentes, os carros são protegidos no nível III, que suporta fuzis M16, 7.62, AK 47, AR 15 e FAL (Fuzil de Assalto Leve). Os Estados Unidos, aliás, exportam serviço para o Oriente Médio, onde são comuns bombas e arsenais pesados de guerra.
A África é outro mercado em crescimento. Lá acontecem casos semelhantes aos do Brasil. A riqueza concentrada de uns e a pobreza da maioria gera violência urbana, e a procura pela blindagem acompanha esse ritmo.
Adaptado do UOL

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